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Lord Internet
por Fred Leal (in Play, agosto de 2002)

PLAY - Por que Nemo Nox?
Nox -
É latim. Nemo significa ninguém. Nox significa noite.

PLAY - Mas por que a escolha desse nick em vez de usar seu nome próprio?
Nox -
Quando fiz meu primeiro website, por questões de privacidade, preferi usar um pseudônimo. Depois, quando me contrataram pela primeira vez para escrever num portal, pediram para eu manter a assinatura. O nome acabou ficando conhecido pela internet e resolvi manter como marca.

PLAY - Você é um cara com longa estrada de internet. O que você já fez que considera mais relevante?
Nox -
Difícil julgar a relevância dos meus próprios projetos, quem tem que fazer isso é o público e a crítica. Dos sites que já criei, acho que os que tiveram mais retorno em número de visitas e espaço na mídia foram a Esfera (revista de cultura online), o Pijama Selvagem (compilação de crônicas e HQ) e o Por um Punhado de Pixels (meu weblog).

PLAY - E em relação aos lugares onde você trabalhou?
Nox -
No Trix eu comecei a desenvolver um trabalho bacana, com uma equipe interessante, mas a empresa resolveu tomar outros rumos e fechou as redações de São Paulo e de Florianópolis. Na Esfera, pude dar continuidade a alguns dos conceitos editoriais que eu mantinha no Trix. No BOL eu trabalhei como webmaster, fazendo HTML. Não tinha relação direta com conteúdo mas era divertido. Na Sony, fui chamado para desenvolver conteúdo, mas a equipe envolvida não tinha muita experiência nem muito pique de internet. As coisas não funcionaram muito bem. Mesmo assim, enquanto estive lá, as visitas dos sites do canal AXN duplicaram.

PLAY - E como está a vida nos EUA?
Nox -
Mudei para cá no final de 2001. Agora estou morando na região de Washington, DC. Já andei por tantos lugares (Santos, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Madrid, Loret de Mar, London, Lisboa, São Paulo, Miami Beach, entre outros) que nem sinto muita diferença.

PLAY - Que equipamento você usa?
Nox -
Tenho um Pentium III rodando Windows 98. Meu primeiro computador, em 1988, foi um laptop Sharp. Era pesado, com tela monocromática, rodava MS-DOS 3.3. Mas eu gosto mesmo de monitor grande, teclado grande. E não gosto de ter que carregar a máquina comigo, prefiro deixar no cantinho dela.

PLAY - A familiaridade com a internet facilitou sua adaptação?
Nox -
Estou tão acostumado em usar a internet para tudo que nem paro para pensar nisso. Nas minhas mudanças mais recentes, comprei passagens de avião, planejei rotas pela estrada, reservei hotéis, até aluguei um apartamento pela internet.

PLAY - Você é um cara relativamente polêmico no meio virtual, tendo alguns desafetos declarados, mesmo que de brincadeira. O que você acha disso?
Nox -
Eu escrevo há alguns anos em vários sites e listas de discussão, em geral com textos opinativos. É natural que algumas pessoas discordem de mim, em especial em certos assuntos mais polêmicos, como por exemplo a obrigatoriedade de diploma para exercer a profissão de jornalista ou a qualidade dos filmes do M. Night Shyamalan. Eu me preocuparia mesmo se todos concordassem sempre comigo.

PLAY - Seu blog é considerado o mais antigo do Brasil.
Nox -
O meu primeiro weblog, o Diário da Megalópole, começou em março de 1998. Até agora não achei um weblog brasileiro anterior a ele, mas não tenho como confirmar se foi mesmo o primeiro.

PLAY - Como surgiu a idéia de criar um blog?
Nox -
Eu estava de mudança para São Paulo e queria um espaço mais descompromissado para contar as minhas descobertas na cidade, os filmes que assistia, as exposições que visitava, coisas assim. A idéia de fazer isso em forma de diário me pareceu natural. Na época em que fiz o Diário da Megalópole não existiam ferramentas para criar weblogs automaticamente. Eu fazia tudo em HTML mesmo, usando o Notepad do Windows. Bem depois, já com o Por um Punhado de Pixels, usei o Blogger. Atualmente uso o Movable Type.

PLAY - Você sente alguma responsabilidade por esse "título"?
Nox -
Eu sempre me preocupo com a qualidade do que publico, mas isso independe de ter sido o primeiro ou de ser o último. Aliás, essa é uma das belezas da web, você pode começar um weblog hoje e em pouco tempo se tornar mais conhecido ou fazer um trabalho bem melhor que o dos pioneiros.

PLAY - Como é seu relacionamento com seus leitores?
Nox -
Tenho o hábito de responder todos os emails que recebo. Em certas épocas mais ocupadas demoro um pouco mais, mas a oportunidade de diálogo é o que muitas vezes motiva continuar fazendo sites.

PLAY - Como você encara as suposições de que você seja a pessoa por trás de Jackie Miller, a colunista social blogueira?
Nox -
Acho engraçada a ingenuidade do boato, que me apontava como verdadeira identidade da Jackie Miller por ser o blogueiro mais elogiado por ela. Mas também acho preocupante a forma irresponsável com que muita gente reproduziu o boato como se fosse verdadeiro, mesmo quando os originadores da brincadeira admitiam que não era. Em tempo: não sou a Jackie Miller, e qualquer um que me conheça um pouquinho vê com facilidade que eu não poderia ser.

PLAY - Que outros blogs você lê?
Nox -
De uns tempos para cá, tenho lido mais weblogs em inglês que em português, não só por estar morando nos EUA mas também por ir encontrando novos sites interessantes por aqui ao mesmo tempo que vou me desinteressando por muitos que lia antes. O que eu gosto num weblog? Bons links, opiniões interessantes, bom humor. O que eu não gosto? Links já vistos em uma dúzia de outros sites, cÌrculos viciosos de "eu-te-elogio-você-me-elogia", cópias infindáveis de poemas alheios, overdose de fotos de gatinhos.

PLAY - Você já trabalhou em várias empresas pontocom. Como vê o chamado "colapso" deste tipo de empresa?
Nox -
Eu nunca vi a situação como "colapso das pontocom", mas como "colapso de empresas sem modelo de negócio". Apoiada numa grande oferta de capital, surgiu uma onda de pseudo-empresários apostando em gastos altos sem preocupação com receitas. O resultado era óbvio. Agora que essa fase passou, as pontocom sobreviventes podem continuar seu ciclo normal em busca de um modelo de negócio adaptado ao novo mercado.

PLAY - E como você vê esse modelo para o novo mercado? Você acha que a internet ainda pode ser um negócio rentável?
Nox -
Para mim a internet não é um mercado, mas uma forma que as pessoas têm para interagir. As empresas mais antenadas são capazes de usar isso para facilitar a vida das pessoas e obter algum lucro com o processo. Outras, sem muita noção do que está acontecendo, insistem em ver a internet somente como um canal de distribuição para seus produtos, e não são capazes de usar a tecnologia disponível para transformar o relacionamento com os clientes numa experiência onde todos saem ganhando. A mudança está acontecendo, os mercados estão evoluindo, as corporações tradicionais precisam acordar.

PLAY - Uma de suas últimas criações foi a revista virtual Burburinho. Fale um pouco sobre ela.
Nox -
O Burburinho é um site de comentários sobre assuntos variados: cinema, livros, música, quadrinhos, internet, fotografia, televisão, etc. Todas as semanas publico um ou dois textos e envio um boletim gratuito por email. A idéia é unir os temas de uma revista de cultura com o tom mais pessoal de um weblog. Este mês o Burburinho completou seu primeiro aniversário.

PLAY - Você já possuía uma revista mais ou menos assim antes? O que te levou a trocar de formato?
Nox -
Sim, a Esfera, que funcionou de setembro de 1998 a setembro de 2001, com atualizações mensais. Troquei de formato por vários motivos. Passei de mensal a semanal para ter mais agilidade, e acrescentei o boletim por email para oferecer mais uma forma de contato. Mudei o tom, que era mais institucional e didático na Esfera, para uma coisa mais pessoal e opinativa no Burburinho. E criei uma estrutura menos dependente de colaboradores. Apesar de ainda ter muita gente me ajudando, tenho mais controle e consigo sempre publicar uma nova edição mesmo que não tenha textos de convidados.

PLAY - Fale um pouco sobre experiência com cinema.
Nox -
A minha formação acadêmica foi em publicidade. Me formei em desenho de publicidade e cursei a faculdade de publicidade e propaganda durante uns anos, sem nunca me formar. Como o cinema sempre me atraiu, acabei trabalhando primeiro como produtor e depois como diretor de comerciais de televisão. Fiz isso durante doze anos, no Brasil e na Europa. Aí cansei, passei a me concentrar mais na escrita, voltei para o Brasil, e comecei a trabalhar com a internet.

PLAY - Fale um pouco sobre a Mensa (sociedade internacional de pessoas de alto Q.I.)? Qual é o seu envolvimento com esta associação?
Nox -
Meu envolvimento hoje é quase nenhum. Fiz o teste em 2001, passei e me associei. Quando organizaram um concurso para o design novo do site da Mensa, eu participei e ganhei. Ajudei a implementar o novo site mas já não tenho mais ligação com o grupo, até porque não moro mais em São Paulo. Estou entrando em contato com a Mensa aqui de Washington, talvez transfira minha participação para cá.

PLAY - Você acha que há uma necessidade de uma associação entre pessoas de Q.I. elevado?
Nox -
A necessidade são as pessoas que criam. Qual a necessidade de uma associação de torcedores do Flamengo ou de colecionadores de tampinhas de garrafa? Para a sociedade em geral, talvez nenhuma. Mas para o grupo envolvido, pode ser uma atividade importante. O problema com a Mensa é que muita gente confunde QI alto com inteligência. Estar entre os 2% da população com QI mais alto só indica a habilidade num certo tipo de testes psicológicos. Inteligência é muito mais que isso, e acho que não pode ser medida objetivamente. Quando alguém começa a se achar oficialmente inteligente, o desequilíbrio entre confiança e competência acaba criando problemas. Isso faz com que o ambiente da Mensa, ao menos no Brasil, seja muito conturbado. Mesmo assim, encontrei muita gente boa por lá, como meu amigo Roger Rocha, do Ultraje a Rigor, que conheci na velha Mandic BBS e fui reencontrar na Mensa.



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