Quinta-feira, Junho 23, 2005

María Lima Mendes

O personagem principal do longo capítulo quinze é María Lima Mendes. Não consegui encontrar na web qualquer referência a ela que não fosse através do livro Bartleby e companhia, o que pode indicar que se trata de mais uma figura inventada pelo Vila-Matas ou de uma pessoa real que não deixou marcas dignas de nota. E é esta a característica do personagem que interessa ao narrador, sua condição de ágrafa apesar de toda a potencialidaade de ser escritora (ou literata, como preferia). Sua desculpa ou explicação inicial era o chosisme, mania dos escritores dos anos setenta de fazer livros sem trama mas com foco nas coisas e em suas descrições. Depois de dedicar trinta páginas do seu romance de estréia somente para descrever o rótulo de uma garrafa de água mineral, foi vitimada pelo famoso writer's block. Retomou a escrita, usando o método de Robe-Grillet, que segundo o narrador consistia em "deter-se mais que o necessário no trivial" numa tentativa de anular o tempo. Novo writer's block. "O golpe final lhe foi dado por um texto de Barthes, precisamente Par où commencer?", conta Vila-Matas. O ensaio discute a dificuldade dos princípios, particularmente os escritos, e assim María Lima Mendes desistiu de continuar escrevendo seu primeiro livro. A história ainda continua, com María mudando de cidade e de nome, mas a única coisa que pude verificar como real foi o texto do Roland Barthes (1915-1980), incluído no volume Nouveaux Essais Critiques.