Quinta-feira, Janeiro 26, 2006

Mais um suicida

O suicida do capítulo 27 é o francês Nicolas Chamfort (1741-1794). Vila-Matas o escolhe por ter sido "partidário do Não", mas seu repúdio não é direcionado à literatura e sim à própria humanidade e particularmente a si mesmo: "O homem é um animal estúpido, julgando-se por mim."

Chamfort escreveu peças de teatro, artigos políticos, críticas literárias, poemas e aforismos (seu livro mais famoso é Maximes et Pensées), mas talvez seja mais lembrado pelo seu suicídio desastrado. Quando soube que seria preso, mais uma vítima da revolução francesa que apoiara em seu início, deu um tiro de pistola no rosto, destruindo o nariz e um olho. Resolveu terminar o serviço com uma adaga e cortou o pescoço e os pulsos. Para completar, cravou a adaga no peito. Quando os guardas chegaram para efetuar a prisão, encontraram-no vivo e desfigurado no meio de uma poça de sangue. Teria declarado então, oficialmente, sua preferência pela morte ao aprisionamento, mas ainda manteve-se vivo durante vários meses, em prisão domiciliar.

Terça-feira, Janeiro 24, 2006

Suicidas

Vila-Matas afirma não querer incluir no livro escritores que pararam de escrever por terem optado pelo suicídio, mas no capítulo 26 abre exceção para dois deles. Eu não os classificaria como bartlebys, afinal não se encontravam acometidos da pulsão negativa e por isso não escreviam, estavam simplesmente mortos e não podiam escrever mesmo que quisessem.

O primeiro suicida citado é o francês Jacques Vaché (1896-1919), cuja obra aparentemente não passa muito de algumas cartas, várias delas a André Breton, que se considerava influenciado por Vaché.

O segundo suicida citado é o mexicano Carlos Díaz Dufoo Filho, autor de Epigramas y otros escritos. Não consegui encontrar dados biográficos sobre ele, e fico na suposição que seja filho do acadêmico mexicano Carlos Díaz Dufoo (1861-1941).

Segunda-feira, Janeiro 23, 2006

Thomas De Quincey

Thomas De Quincey (1785-1859) é o tema do capítulo 25. Vila-Matas diz que a síndrome de Bartleby manifestou-se nele em forma de ópio, já que dos dezenove aos trinta e seis anos, viciado, não escreveu coisa alguma. Mas o ópio pode ter sido precisamente o elemento essencial para a carreira literária de Quincey, já que seu primeiro livro foi Confessions of an English Opium Eater (Confissões de um Comedor de Ópio), um texto biográfico contando sua experiência com a droga. A partir daí, escreveu e publicou muito, com destaque talvez para On Murder Considered as One of the Fine Arts (Do Assassinato como uma das Belas Artes). Vários de seus livros estão disponíveis para download gratuito, incluindo Confessions of an English Opium-Eater e On Murder Considered as One of the Fine Arts.

Terça-feira, Janeiro 03, 2006

Mais Kafka

Na página 71, Vila-Matas cita o diário de Kafka: "O entusiasmo ininterrupto com que leio coisas sobre Goethe (conversas com Goethe, anos de estudante, horas com Goethe, uma temporada de Goethe em Frankfurt) me impede totalmente de escrever." Eu me sinto muitas vezes improdutivo exatamente por essa ânsia de consumo cultural (ainda que não monotemática com a de Kafka), parece não somente mais fácil mas absurdamente mais importante mergulhar em toneladas de livros, filmes, sites, revistas, que sentar e escrever.

O resto do capítulo 24 é dedicado a um arquétipo criado por Vila-Matas, o Scapolo (solteiro, em italiano), mistura do Solteiro de Kafka com o Bartleby de Melville, híbrido lúgubre com quem o protagonista parece identificar-se.

Segunda-feira, Janeiro 02, 2006

Llovet e Hazlitt

O capitulo 23 é sobre um texto de Jordi Llovet sobre um livro de William Hazlitt (1778-1830), ambos (texto e livro) afirmando uma certa inclinação para a pulsão negativa. Consegui encontrar uma transcrição do artigo no catalão original: L'assaig anglès.

Segunda-feira, Setembro 05, 2005

Torga e Bettencourt

O capítulo 22 fala de dois escritores portugueses, um que continuava escrevendo, outro que parou de escrever por mais de trinta anos. O primeiro, Miguel Torga (1907-1995), segundo Vila-Matas, teria enviado uma carta ao segundo, Edmundo de Bettencourt (1899-1973), dizendo hiperbolicamente: "O fato de não publicar, senhor Bettencourt, chegou a se transformar, para mim, em um pesadelo." Depois de ter lançado em 1940 um livro de poemas que foi mal recebido pela crítica, Bettencourt calou-se até 1963, quando autorizou a publicação de outro volume, com mais poemas da década de trinta, que também seria mal recebido pela crítica. E, se escreveu outras coisas, nunca as publicou. Quando morreu, um jornal disse que "faleceu em voz baixa".

Quinta-feira, Setembro 01, 2005

Vigaristas

No capítulo 21, Vila-Matas ao mesmo tempo afasta-se do seu tema principal, saltando dos artistas do não para os artistas da impostura, e reaproxima-se de seus protagonistas, citando novamente Duchamp (por que a insistência nele quando não era realmente um escritor e portanto tampouco um exemplar genuíno dos bartlebys que o livro se propõe abordar?) e Melville (autor, além do conto Bartleby the Scrivener, também de The Confidence-Man, livro sobre um vigarista).

The Confidence-Man: His Masquerade foi o último livro em prosa de Herman Melville, publicado no dia 1° de abril de 1857. A ação também se passa num dia 1° de abril, a bordo de um barco no Mississippi, onde o vigarista do título faz um jogo de verdades e mentiras com os outros passageiros. Encontrei uma versão completa do texto disponível online: The Confidence-Man.