Quarta-feira, Fevereiro 23, 2005

A síndrome de Bartleby

É ainda na introdução do livro (embora não explicitamente chamada de introdução, é o trecho sem título que antecede a primeira nota numerada) que Vila-Matas define o assunto de Bartleby e companhia: "Já faz tempo que venho rastreando o amplo espectro da síndrome de Bartleby na literatura, já faz tempo que estudo a doença, o mal endêmico das letras contemporâneas, a pulsão negativa ou a atração pelo nada que faz com que certos criadores, mesmo tendo consciência literária muito exigente (ou talvez precisamente por isso), nunca cheguem a escrever; ou então escrevam um ou dois livros e depois renunciem à escrita; ou, ainda, após retomarem sem problema uma obra em andamento, fiquem, um dia, literalmente paralisados para sempre."

Apesar de grande parte dos exemplos apresentados no decorrer do texto ser de séculos passados, Vila-Matas (ou seu narrador) parece considerar que a síndrome de Bartleby é não só uma tendência contemporânea mas também uma etapa inescapável da literatura, e a chama de "o único caminho que permanece aberto à autêntica criação literária". Daí ele espera que surja uma nova literatura: "Apenas da pulsão negativa, apenas do labirinto do Não pode surgir a escrita por vir."