Quinta-feira, Julho 14, 2005

EVM no JB

Enrique Vila-Matas entrevistado no Jornal do Brasil: Um escritor do contra. Um trecho:

"– Foi surpresa ou opção escrever um livro como O Mal de Montano, sobre um personagem obcecado por literatura, imediatamente após Bartleby e Companhia, em que o senhor trata justamente de escritores que abandonaram essa mesma literatura?
– Creio que escrevi Bartleby e companhia com uma certa inconsciência, pois na própria entrevista coletiva de lançamento do livro, organizada por minha editora espanhola, me dei conta de que tinha caído em minha própria armadilha e que talvez nunca mais voltasse a escrever. Foi quando uma jornalista me fez uma pergunta de última hora, uma pergunta de resto tão habitual: 'O que está escrevendo no momento? Qual será o seu próximo livro?'. Senti-me de imediato um Bartleby, pois aquilo me fez perceber que não estava trabalhando em nenhum livro novo. Cheguei a enrubescer. Nos dias seguintes busquei uma solução para aquele beco sem saída e fui dar no outro extremo dos 'bartlebys' (escritores que deixam de escrever). Comecei a planejar um romance no qual o narrador sofresse dessa doença da literatura e, entre outras coisas, quisesse (e necessitasse) escrever o tempo todo. Para minha grande surpresa apareceu-me Montano. Você sabe que, para alguns, aparece a Virgem. No meu caso apareceu-me esse louco do Montano. É o livro mais livre de todos os que escrevi até agora. É uma fonte de ódio absoluto para meus inimigos, e de prazer para os meus admiradores."

Quarta-feira, Julho 13, 2005

Mais Kafka

O capítulo 19 fala novamente de Franz Kafka (1883-1924) e dois de seus personagens. O primeiro, já mencionado, é o artista que se recusava a comer, protagonista de A Hunger Artist. O segundo é o artista de trapézio "que evitava tocar o chão com os pés e passava dia e noite no trapézio sem descer", protagonista de First Sorrow. Vila-Matas faz um paralelo entre as várias recusas (de escrever, de comer, de descer), todas, segundo ele, pulsões negativas.

Leitor com pulsão negativa

Email do Rodrigo Ferraz de Camargo:
Acabei de ler Bartleby, o escriturário e prefiro não fazer nenhum comentário.

Quarta-feira, Julho 06, 2005

Joseph Joubert

Joseph Joubert (1754-1824) viveu setenta anos sem publicar um livro. Escrevia muito, em cadernos de anotação e em papéis soltos, mas dizia-se ainda despreparado para fazer um livro. Sua desculpa era circular: "Ainda não posso escrevê-lo, ainda não encontrei a fonte que procuro. E o caso é que se encontro essa fonte, terei mais motivos ainda para não escrever esse livro que você gostaria que eu escrevesse." Aproveitando a morte de Joubert, porém, seu amigo Chateaubriand publicou em livro seus "papiers de la malle" (papéis do baú) com o título Recueil des Pensées de M. Joubert, mais tarde revisto e aumentado por um sobrinho de Joubert e republicado como Pensées, Essais, Maximes et Correspondanee de J. Joubert. Há uma versão em inglês, The Notebooks of Joseph Joubert, traduzida pelo Paul Auster.

Lamentos

No capítulo 17, o narrador lamenta-se por pouco mais ser além de narrador: "Sou meramente uma voz escrita, quase sem vida privada nem pública, sou uma voz que atira palavras que de fragmento em fragmento vão enunciando a longa história da sombra de Bartleby sobre as literaturas contemporâneas." Não fala de outros bartlebys mas cita Baudelaire e Beckett. E menciona Joseph Joubert, que será assunto do próximo capítulo.

Sexta-feira, Julho 01, 2005

Mais Ferrer Lerín

Recebi um simpático email do próprio Ferrer Lerín, com o jocoso título Poeta aún no muerto:
Amigo Nemo Nox:

Gratamente sorprendido por tu weblog en el que se me cita, considera y casi se me vindica.

Un fuerte abrazo desde España.

Ferrer Lerín.

Gracias!