Sexta-feira, Março 04, 2005

Felipe Alfau

O bartleby da segunda nota (que também cita rapidamente vários outros escritores, entre eles Rimbaud, Salinger e Hofmannsthal, todos posteriormente tratados com mais vagar) é Felipe Alfau (1902-1999). Catalão migrado para os EUA, publicou na década de vinte o romance Locos: a Comedy of Gestures e o livro infantil Old Tales from Spain e em seguida mergulhou em cerca de vinte anos de silêncio literário. Em 1948 escreveu Chromos (que só foi publicado em 1990) e voltou a silenciar-se por mais cinqüenta anos.

Vila-Matas atribui-lhe uma desculpa para ter parado de escrever: "Parece-me genial o tio Celerino que Felipe Alfau tirou da manga. Acho que é muito engenhoso dizer que alguém renunciou à escrita devido ao transtorno de ter aprendido inglês e de ter-se tornado sensível a complexidades nas quais nunca havia reparado." O trecho em que se baseia, porém, o início de Chromos, não parece concebido para ser tomado com seriedade, e suspeito que todo o livro tenha um tom sarcástico, parodiando os estereótipos freqüentemente aplicados aos latinos: "Quando você aprende inglês, começam as complicações. Por mais que se tente, sempre se chega a essa conclusão. Isso pode ser aplicado a todo mundo, àqueles para quem inglês é a língua materna, mas sobretudo aos latinos, incluídos os espanhóis. Manifesta-se fazendo-nos sensíveis a implicações e complexidades nas quais nunca havíamos reparado, faz-nos suportar o assédio da filosofia, que, sem uma tarefa específica, intromete-se em tudo e, no caso dos latinos, faz com que eles percam uma de suas características raciais: aceitar as coisas como elas vêm, sem indagar as causas, motivos ou fins, sem se intrometer indiscretamente em questões que não são de sua competência, e os torna não apenas inseguros, mas também conscientes de assuntos com os quais não se haviam importado até então."