Terça-feira, Março 15, 2005

Hofmannsthal, Kafka, Gide, Musil, Valéry, Wittgenstein

O quarto capítulo de Bartleby e companhia é um desfile de autores, já que Vila-Matas começa com uma lista de escritores que foram bartlebys ou escreveram sobre bartlebys no século XX e termina com uma lista dos escritores do século XIX que os teriam influenciado. Falo agora sobre os mais novos e depois sobre os mais velhos.

Hugo von Hofmannsthal (1874-1929), austríaco, autor de muitos livros, libretista de várias óperas de Strauss, entra na lista de Vila-Matas por ter escrito Ein Brief des Lord Chandos (A Carta de Lord Chandos), onde Lord Chandos escreve a Francis Bacon desculpando-se por ter abandonado a literatura. É um texto exemplar da pulsão negativa e será citado mais vezes no decorrer do livro. Há uma versão em inglês disponível online: The Letter of Lord Chandos.

Franz Kafka (1883-1924), tcheco, tem múltiplas conexões com a síndrome de Bartleby, e também voltará a aparecer no livro. Aqui é citado por causa de seus Diários, onde é discutida a "impossibilidade essencial da matéria literária". Sua relutância em publicar o que escrevia (acredito que somente alguns contos seus foram impressos enquanto estava vivo e que todos os seus romances são publicações póstumas) o caracteriza como bartleby, e seu conto Um Artista da Fome tem muito em comum com Bartleby, the Scrivener. Há uma versão em inglês disponível online: A Hunger Artist.

André Gide (1869-1951), francês, entra na lista por conta do seu Paludes, onde um personagem fala sempre em escrever um livro que nunca chega a escrever. Robert Musil (1880-1942), de quem já falamos antes, volta a aparecer, novamente por causa do romance O Homem Sem Qualidades (Der Mann Ohne Eigenschaften), em que enaltece a idéia de um autor improdutivo. Paul Valéry (1871-1945), francês, também tem seu personagem emblemático da síndrome de Bartleby, Monsieur Teste, protagonista de vários contos, que renunciou à escrita e atirou sua biblioteca pela janela.

Ludwig Wittgenstein (1889–1951), austríaco, só publicou um livro antes de sua morte, o Tractatus Logico-Philosophicus, conclusão de seu período de estudo sob supervisão de Bertrand Russell e que lhe valeu o título de PhD. Depois disso recolheu-se ao campo, deu aulas em escolas rurais e foi jardineiro num mosteiro. Vila-Matas aponta a existência de um segundo livro, um vocabulário rural austríaco, que poderia ser fruto dessa fase. Mesmo assim, sua produção posterior ao PhD foi compilada por alunos que resgataram cadernos de anotações e textos de palestras, e seu Philosophical Investigations foi publicado em 1953.