Sábado, Março 05, 2005

Mais bartlebys

Do Alexandre Inagaki:

Coloque aí no seu blog o nome de Campos de Carvalho. Ele publicou seis livros. Dois posteriormente rejeitados pelo próprio autor (característica bem bartlebyana, não?), Banda Forra (1941) e Tribo (1954). E quatro reeditados há algum tempo pela José Olympio Editora em um volume único, A Lua Vem da Ásia (1956), A Vaca de Nariz Sutil (1961), A Chuva Imóvel (1963) e O Púcaro Búlgaro (1964). Escritor magistral, de um humor desconcertante e anárquico, Campos de Carvalho simplesmente afastou-se da cena literária após o lançamento de seu último romance, sabe-se lá se por desencanto com o mundanismo cultural, insatisfação com os próprios escritos ou puro desinteresse.

Walter Campos de Carvalho (1916-1998), influenciado fortemente pelo surrealismo (já é célebre seu parágrafo de abertura de A Lua Vem da Ásia: "Aos dezesseis anos matei meu professor de Lógica. Invocando a legítima defesa - e qual defesa seria mais legítima? - logrei ser absolvido por 5 votos contra 2, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris.") e pelo anarquismo (em entrevista ao jornal O Globo: "Eu sempre fui anarquista, liberto de qualquer dogma."), estava esquecido até que seus livros foram reeditados em 1995 no volume Obra Reunida e a crítica o redescobriu e o encheu de elogios.

Um texto de Nelson de Oliveira especula sobre as razões do seu silenciamento: "Há mais de trinta anos decidiu abandonar a literatura, talvez por enfado, talvez por se sentir desiludido com nosso insípido mundo editorial. Segundo suas próprias palavras, uma altercação com o editor Ênio Silveira teria sido a gota d’água que o levara a optar pelo auto-exílio."